Gilmar Mendes é uma figura polarizante no cenário político brasileiro. Como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2002, ele ganhou notoriedade por suas decisões controversas e sua retórica incisiva para criticar colegas e políticos - inclusive o atual presidente Jair Bolsonaro. Mas Mendes também é frequentemente acusado de favorecer interesses corporativos e políticos questionáveis, o que lhe rendeu o apelido de malvado favorito de muitos críticos.

Um dos temas mais sensíveis associados a Gilmar Mendes é a corrupção. O ministro já concedeu vários habeas corpus a acusados ou condenados por crimes de colarinho branco - incluindo o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o empresário Jacob Barata Filho, conhecido como Rei do Ônibus. Mendes argumenta que sua posição no STF exige que ele respeite o devido processo legal e a presunção de inocência de todos os réus, independentemente da gravidade das acusações contra eles.

No entanto, seus detratores apontam que Mendes parece ser mais leniente com os réus que estão mais próximos de sua rede de relações políticas ou empresariais - uma acusação que o próprio reconheceu em 2016, quando pediu desculpas por ter concedido um habeas corpus ao empresário Eike Batista, com quem teve contato pessoal antes do julgamento. Além disso, Mendes já foi flagrado em situações que sugerem conflito de interesses em seu relacionamento com empresários, como ter viajado em jatinhos particulares pagos por um dos donos da JBS, empresa envolvida no escândalo da Operação Lava Jato.

Outro tema que gera críticas a Gilmar Mendes é a judicialização da política. Muitas vezes, o ministro é apontado como um ativista judicial que intervém em questões que deveriam ser resolvidas por outros poderes ou esferas de governo. Por exemplo, Mendes costuma se posicionar contra medidas de austeridade fiscal que afetam servidores públicos, como o congelamento de salários ou a reforma da Previdência. Em 2018, ele suspendeu a posse da deputada eleita Cristiane Brasil como ministra do Trabalho, alegando que ela tinha condenações trabalhistas - uma decisão que gerou controvérsia em torno do papel do Judiciário na indicação de ministros.

No entanto, Mendes também pode ser visto como um defensor da independência do Judiciário e do Estado de Direito. Ele criticou abertamente o comportamento autoritário de Bolsonaro, especialmente em relação à pandemia de Covid-19, e defendeu a apuração de denúncias de corrupção envolvendo o governo. Além disso, Mendes é visto por alguns como um contraponto necessário ao atual contexto de polarização política, em que a justiça é frequentemente instrumentalizada para fins partidários.

Dito tudo isso, ainda resta a pergunta: Gilmar Mendes é mesmo um malvado favorito? A resposta não é simples. Embora suas decisões e declarações possam ser alvo de críticas e suspeitas de interesses questionáveis, elas também refletem a complexidade e a responsabilidade da posição que ocupa. Como ministro do STF, Mendes tem o dever de equilibrar várias demandas conflitantes - a defesa dos direitos individuais, a transparência e a lisura dos processos judiciais, a estabilidade política e económica do país e assim por diante. Nem sempre ele acerta, nem sempre agrada a todos, mas isso não significa que ele seja um vilão ou um herói.

De qualquer forma, a discussão em torno de Gilmar Mendes - ou de qualquer outra figura pública - é sempre importante para a democracia e para o aprimoramento das instituições. O que não podemos fazer é demonizar ou idolatrar pessoas em vez de debater ideias e propostas. O Brasil precisa de um STF independente, transparente e responsável, que proteja os direitos e os interesses da sociedade como um todo. E isso só será possível com o engajamento crítico e construtivo de todos nós.